Ainda perplexo com o que vi no Templo dos Ratos e condenando a maneira em que religião moldou a história da sociedade em meus pensamentos perversos, segui viagem para Jaisalmer, a “cidade dourada”, localizada no deserto de Thar, no extremo oeste da Índia, próximo a divisa com o Paquistão.
A cidade viveu seu esplendor cerda de 800 anos atrás, pois era rota obrigatória das caravanas de mercadores, escoando especiarias e pedras preciosas para o Oriente Médio, África e Europa. Com a expansão da navegação a cidade foi esquecida. A herança dessa época de esplendor deixou um legado eterno. Um dos maiores fortes do mundo, que atrai milhares de turistas todos os anos.
Do alto de uma colina, a gigantesca fortaleza impressiona! Chega a tirar o fôlego! Construído com pedras de arenito em tons amarelados, contrasta com a cidade, em um suave degradê, mudando de tonalidade de acordo com a incidência do sol. De todos as fortalezas que vi na Índia, essa foi a minha favorita! Não só pela beleza arquitetônica, mas também pelo fato de muita gente viver ali. É um castelo cheio de vida! É uma delícia passear pelas ruelas e observar o dia a dia dos moradores, se distrair com as lojinhas de artesanato, e sentir os aromas vindos das cozinhas das casas.
Um reservatório de água construído no século XIV rodeado por templos e construções interessantes, um passeio entre as ruelas da cidade baixa, e alguns templos Jainistas são as atrações coadjuvantes do lugar. Também existes alguns complexos templários ao redor da cidade como o Royal Cenotaphs Bada Bagh, que eu preferi trocar por um passeio de camelo no deserto. Se você nunca andou no lombo desse animal, o passeio entre as dunas vale! Mas achei um tanto quanto monótono. Valeu muito mais ver o pôr do sol e acompanhar a preparação do jantar feito pelos guias sobre as dunas do que andar de camelo propriamente. Ao adquirir o passeio você pode optar em dormir no deserto. Talvez seja uma boa opção em noites de lua cheia.
De Jaisalmer, a “cidade dourada”, segui viagem para Jodhpur, a “cidade azul”. Cheguei junto com a chuva trazida pelas monções. Muita água despencou a partir desse momento atrapalhando um pouco meu cronograma e deixando meu único tênis com um cheiro horrível! Ele molhou e secou várias vezes com meus pés dendro. Arrrgggghhhhh!
Com quase 1 milhão de habitantes Jodhpur possui o mesmo padrão de todas as cidades indianas. Frenética, confusa, mal cheirosa (coisa que nessa altura eu não podia reclamar devido ao meu calçado), com motoristas de tuk-tuk tentando te extorquir, buzinaço, vacas, rikshaws e muita gente nas ruas, principalmente em torno da Clock Tower, que fica bem no centro do Sadar Market, fazendo parte de um dos principais pontos turístico e comercial da cidade. Ali, turistas e locais se misturam em busca de frutas, especiarias, bijuterias, roupas, e tudo mais. Com a chuva, o passeio exige um cuidado especial com as poças e pisos irregulares e escorregadios. Visite o mercado o mais cedo possível, é nessa hora que os locais vão as compras, evitando o forte calor. Dizem que no final da tarde também é legal.
Existe uma “passagem secreta” que liga o mercado ao Forte Meherangarh (1460). O majestoso forte é o principal ponto turístico da cidade que se encontra no alto de uma colina de 120 metros de altura. É uma rampa escondida entre as ruelas. Eu sugiro subir de tuk-tuk até a entrada do forte e de lá, fazer todo o passeio e descer a pé! Assim você vai se encantar com os músicos, encantadores de serpentes, com as fachadas do forte e ainda curtir a incrível atmosfera das escadarias até a Clock Tower novamente. Na entrada do forte é possível subir ao museu de elevador. É uma também… subir de elevador e descer caminhando. O ingresso custa cerca de US$ 5, com museu, audioguia e permissão para fotografar e US$ 0,30 para elevador.
Além da incrível fachada, a fortaleza impressiona também internamente. A visita guiada te conduz por palácios, aposentos, salões, e um acervo bastante interessante usados pelos marajás em diferentes épocas, já que o forte foi expandido por diferentes governantes entre os séculos XVIII e XIX. De lá é possível entender porque Jodhpur é conhecida como a “cidade azul”. Milhares de casinhas pintadas em diferentes tons de azuis oferecem um visual bastante interessante. Existem algumas teorias que explicam esse colorido. Uns dizem que azul espanta mosquitos, outros que ameniza o calor. No entanto, a teoria mais aceita é a identificação de castas.
Para completar o giro no Rajastão, segui para Udaipur, ao sul do estado. A chuva caiu por dois dias, forte e incessante, derrubando várias árvores. Não consegui ver muita coisa. Conhecida como a “Veneza do Oriente”, foi erguida às margens dos Lagos Pichola, Fateh Sagar, Jaisamand, Rajsamand e Udair Sagar. É a mais compacta das cidades do Rajastão que visitei. A mais organizada e arejada também, talvez pelo fato da chuva e por estar a 600 m de altitude. Da para fazer tudo a pé. Ganhou fama com o filme 007 Contra Octopussy, filmado em 1983 entre os palácios, vielas e arredores da cidade.
Dias antes, um viajante que encontrei no Zostel, hotel onde estou me hospedando em Deli, havia me dito que o lago estava seco. Mas bastou 3 dias de chuva e ele encheu novamente, trazendo um ar romântico para os casais que visitam a cidade.
Andar pelas vielas da cidade beirando os lagos e o City Palace, foi tudo que consegui conhecer. O palácio é incrível! Ampliado por cada marajá que viveu ali, foi decorado em diferentes estilos, com 11 prédios encadeados e inúmeras salas. Como em quase todas as atrações do Rajastão, paga-se para entrar com máquina fotográfica.
Dicas:
Escolha um dos vários restaurantes nos terraços dos prédios. Além de ótimo padrão, no geral oferecem vista para o lago.
Todos os dias no Bagore-Ki-Haveli, acontece um show de danças típicas do Rajastão ás 19:00 h (perdi, a chuva cancelou o espetáculo nesse dia, mas dizem que é muito legal!).
Perdi também a vista da cidade do alto do morro que sobe-se de teleférico. Dizem que o pôr-do-sol vale a pena.
Já era hora de voltar a Deli, afinal, estava na esperança de receber o aval e dar entrada na segunda e definitiva etapa do processo de emissão de visto para o Irã.
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Como sempre nos surpreendendo com seus destinos inusitados e essa força sem igual. Estou acompanhando aqui de longe e torcendo por você meu amigo!
A recíproca é verdadeira! Aproveita a vida!