Deserto, montanhas nevadas, lindas praias, cidades históricas, arquitetura, diversidade cultural, povo hospitaleiro, novos amigos, cheiros e sabores deliciosos e muita diversão! Minha viagem pelo Marrocos está sendo muito divertida e surpreendente!
Embora meu natal tenha sido melancólico, sozinho dentro de um quarto de hotel, meu Ano Novo não poderia ter começado melhor! Meus pais fizeram a gentileza de trazer minha filha Ana Laura, e juntos, além de comemorar seus 15 anos, passeamos pelos principais destinos do país. Uma viagem que me colocou frente a frente com as diferenças em viajar como turista convencional e de bicicleta. Acostumado a receber gentilezas quando estou com a minha magrela, estranhei um pouco o fato de não ser “mimado” pelos locais como de costume, e experimentei de maneira mais incisiva, a abordagem hiperbólica do mundo turístico na busca sedenta pelo dinheiro! Uma insistência que tira qualquer um do sério!!! Aquela velha prática da barganha do mundo árabe… é o vender a qualquer custo! Qualquer coisa!
O deserto do Saara é uma das principais atrações do Marrocos, ocupando grande parte do seu território. Para chegar até as dunas de areia é preciso cruzar o país e chegar bem pertinho da fronteira com a Argélia, atravessando a cordilheira Atlas ou Rif, que se estende por mais de 2.400 km entre o oceano e o deserto. A montanha mais alta da cordilheira é a Jbel Toubkal, com 4.167 metros acima do nível do mar, a segunda mais alta da África, perdendo apenas para o Kilimanjaro na Tanzânia. Nesta época do ano, os picos mais altos estão nevados, deixando a paisagem ainda mais bonita!
Os Berberes são o povo do deserto. Nômades, vivem principalmente da criação de camelos e do turismo, explorando desde os fósseis da região até excursões para os entusiastas que desejam passar a noite debaixo do incrível céu estrelado do Saara. Acompanhar o pôr do sol, e as sutileza das mudanças de cores das dunas é imperdível.
Chefchaouen, a cidade azul, situada no norte do país, nas encostas da cordilheira, é outro ponto muito visitado do Marrocos. Fundada em 1471 para tentar impedir a invasão portuguesa no continente africano, a cidade acabou virando refúgio dos judeus a partir de 1930. Existe muitas teorias para explicar o azul, entre elas, que espanta mosquitos. No entanto, a teoria mais aceita é que os judeus, para preservar a tradição sagrada das roupas dos reis do Antigo Testamento, resolveram reverenciar o azul, fazendo da pacata cidade a “extensão do céu”. O número de judeus da cidade é bem pequeno nos dias de hoje, mas os habitantes ainda seguem a tradição, pintando as fachadas, ruelas e escadarias em diferentes tons de azul.
Chefchaouen passou a ser ponto obrigatório para os “malucos”. Dizem que o haxixe da região é um dos melhores do mundo!
As grandes cidades como Fez, Casablanca, Rabat (capital), Marraquexe e Tanger, possuem como principal atração os palácios reais, as grandes mesquitas e a Medina. Medina é o nome do bairro mais antigo da cidade. Toda cidade tem a sua, que geralmente é cercada por grandes muralhas que no passado serviam de fortificações. A dica é se hospedar dentro das muralhas em um Riad, nome dado aos pequenos hotéis tipo pousada. Geralmente administrado por famílias que também habitam o local.
As Medinas são verdadeiros emaranhados formados por ruelas, escadarias e becos que exigem bastante do senso de direção. Certamente você vai se perder dentro dela. Então, procure guardar o nome de um ponto de referência como uma mesquita, o nome do hotel ou um dos grandes portões das muralhas Todos os portões possuem nomes. E não se preocupe, há sempre um guia para te levar de volta em troca de alguns trocados.
Além da arquitetura genuína, as Medinas possuem identidade única, um comércio vibrante, onde turistas e locais se espremem em meio a carroças, motos e bicicletas em um agitado frenesi. Em geral, parecem desorganizadas, mas existe os Souks, setorizando diferentes áreas do comércio como vestimenta, especiarias, restaurantes e souvenir por exemplo.
Viajar de bicicleta pelo centro norte do Marrocos é bastante excitante, com paisagens de tirar o fôlego! Geralmente o trânsito é moderado, mas as pistas sem acostamentos, as curvas nas regiões de montanha, a frota antiga e motoristas agressivos exigem muita atenção. As vilas ou cidades são frequentes, e os marroquinos estão sempre dispostos a ajudar, seja com um simples copo de água, passando por um prato de comida e até um lugar para passar a noite. Carente de saneamento básico, o povo do interior é muito simples, vivem quase que exclusivamente da produção rural de subsistência, calcado por grandes latifúndios de plantação de trigo, soja e milho, fazendo algum dinheiro com o excedente da produção. Os mais afortunados possuem pequenos comércios ou industrias de manufaturas que exploram a matéria prima local. Pequenas fábricas de azeite, pão, especiarias, tapetes, panelas de barro, artesanato são alguns exemplos.
A diversidade gastronômica do Marrocos é incrível! Quase sempre rústica, com carnes variadas, peixes e vegetais, o país se orgulha do cuscuz (sêmola de trigo), e do tajine. Na verdade tajine é o nome da panela em forma de vulcão, geralmente de cerâmica, que dá nome ao prato servido com uma carne e vegetais. O tajine de cordeiro é o meu preferido.
Os restaurantes de beira de estrada possuem um açougue agregado que servem os dois pratos típicos e também churrasco. Os miúdos como fígado, coração e rins também são muito apreciados. Você escolhe a parte que quer assar, compra por peso, e é adicionado uma taxa para preparar. Um quilo de carrê de cordeiro sai em torno de US$ 7.
O Harira é uma sopa de grão de bico, o Maticha, espécie de omelete que pode levar queijo, tomate ou embutidos, também são muito populares, assim como os peixes e frutos do mar, que podem ser encontrados, fritos, empanados ou na brasa.
Nas casas a comida é geralmente servida em um único prato. O pão acompanha todas as refeições, fazendo o papel dos talheres, que são encontrados apenas em restaurantes mais sofisticados. Embora o país seja o paraíso das especiarias, o cominho é predominante em todos os pratos. Até ovo cozido é “xunxado” no cominho em pó. Embora os pratos não sejam picantes, o molho de pimenta chamado Harissa acompanha tudo, sempre servido separadamente.
Todas as refeições são acompanhadas de chá, que no geral são de hortelã e bem doce. Por ser um país muçulmano não é comum encontrar bebida alcoólica por aqui. As frutas secas, nozes e castanhas, verduras e hortaliças são abundantes. O quilo de tâmaras custa em média US$ 2,5. Nem preciso falar que caio matando, né? kkk As frutas também são deliciosas, com destaque para a maça, pêra tipo portuguesa e as minhas favoritas mexericas. Ual! São deliciosas!!! Lembra as da minha infância no sítio dos meus avós.
Nesta época do ano a produção de azeite de oliva está a todo vapor! Geralmente são as mulheres que debulham as azeitonas do pé com longas varas, na base da pancada. Daí, os frutos são recolhidos e enviados para pequenas fábricas ou para moendas movidas por animais. O quilo da azeitona sai por US$ 2, e o azeite USS 6 o litro. Estou abusando do azeite, azeitonas e um queijo tipo coalhada vendido por mulheres na beira de estrada. Delícia sem fim!
Mesmo ao nível do mar, as temperaturas durante a noite são baixas, exigindo proteção. Em algumas noites, dormi em restaurantes de beira de estrada, aproveitando da hospitalidade do povo local. Chove pouco nesta época do ano, os ventos são relativamente fortes e mudam bastante de direção.
Ainda em Tanger, conheci Leighton, um canadense, e no nosso primeiro dia de pedal, cruzamos o inglês Luck, escalando a primeira grande subida em território marroquino. Todos com planos bem parecidos, seguimos juntos nos primeiros dias. Nos entrosamos bem, mas como estava indo encontrar a minha família me separei precocemente dos amigos. Lucas chegaria em Marraquexe e voltaria para casa. O canadense, voltou para a França, e infelizmente fiquei sabendo que teve a bicicleta roubada. Um duro golpe para o garoto que tinha ambição de chegar ao sul da Croácia.
Agora minha férias acabou! Curti tudo que pude, claro, querendo mais! Ainda posso sentir o cheiro de todos! E isso me alimenta! Me sinto com as baterias carregadas para enfrentar, ou melhor, curtir 2017 de maneira intensa! Meu coração está pronto para as emoções!
Já renovei meu passaporte, e o visto da Mauritânia, meu próximo destino, estréia meu novo documento. As atenções agora se voltam aos preparativos para enfrentar um dos grandes desafios do projeto Da China para Casa by Bike até aqui. Para chegar a Mauritânia será preciso desbravar o maior deserto do mundo, o Saara. Mas antes disso, ainda tem um longo trecho de Marrocos até chegar lá! A boa notícia é que meu velho e companheiro Jordi, o catalão que já pedalou comigo na Nova Zelândia e Europa, está chegando para me acompanhar por mais um trecho.
Esse é o meu primeiro post do ano. Aproveito a oportunidade para desejar um ótimo 2017 a todos, e dizer que a sua visita no blog, as curtidas, os recados e mensagens, continuam sendo um grande combustível para eu seguir em frente!
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Muito obrigado e vamos juntos, de peito aberto, com ou vento a favor, ou não, para o melhor ano de nossas vidas! INSHA’ALLAH (em árabe: esperança em um acontecimento; se Deus, ou Alá, quiser).
Respostas de 6
Oi Aurélio, feliz 2017 para vc tb!!!
Que venham muitas aventuras e “causos”para nós presentear!!!!
Fotos Maravilhosas!!!
Boa sorte , estamos aqui prontos para embarcar nessa aventura incrível pelo Marrocos e pelo deserto do Saara!!!
Tenha cuidado !!!!!
Bj
Obrigado Claudia! Vc sempre com palavras carinhosas! Obrigado!
Uau! Deserto do Saara, que máximo. Grandes emoções, tô na garupa. beijooos.
Conto com isso! Espero que esteja bem! bj
Hi Aurelio, you are still alive …… Was already afraid that something happened to you! Now and then you’re sitting on a real camel. Have fun! And always be careful! Your street brother Ronny, the penguin and camel!
I found your brother here My Camel Friend! I hope to find the other one, pinguin! kkkk Big hug!