Aurélio Magalhães – Da China Para Casa by Bike

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Em Istambul: Na sombra dos atentados

Cheguei a Istambul na noite anterior ao atentado que matou 4 pessoas e deixou mais de 30 feridos em uma das ruas mais importantes da cidade. Ainda trazia na bagagem a pesada notícia de outro atentado, ocorrido dias antes na capital Ancara, que deixou mais de 125 feridos e 34 mortos depois que um carro bomba explodiu. Para piorar a situação, no final de semana, os Curdos comemorariam a chegada da primavera, um evento que gerou uma tensão enorme nos habitantes da cidade. O “Noruz” é uma festa tradicional Curda que acontece a mais de 3000 anos em comemoração ao Ano Novo no calendário Persa. Por ser uma festa originalmente iraniana, histórico adversário político dos turcos, e por muitos outros motivos, o governo turco proíbe essa comemoração. Considerados a maior nação sem estado do mundo, os Curdos são um grupo étnico nativo do Curdistão, que inclui partes dos territórios do Irã, Síria, Turquia, Armênia e Geórgia, onde 14 milhões deles vivem no momento. O grupo terrorista separatista Curdo (PKK),que reivindicam a criação do seu Estado próprio, responsabilizados pelos atentados, prometiam revidar a represália do governo com mais ataques.

Essa ameaça gerou forte tensão na população que praticamente não saiu de casa no final de semana. E foi assim, intocado na casa de Oz Gun, do warmshowers, que Eric e eu passamos os primeiros dias em Istambul. Depois, ainda com medo, fomos conhecer alguns lugares fora do roteiro turístico e longe das zonas de risco, sempre evitando o transporte público, obrigando-nos caminhar muito.

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Istambul, Turquia.

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Fortaleza Rumelihisari, Estreito de Bósforo, Istambul, Turquia.
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Estreito de Bósforo, Istambul, Turquia.
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Em primeiro plano a Mesquita Nova, ao fundo a Hagia Sophia. Istambul, Turquia.

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Estação de metrô Haliç, ao fundo a Mesquita Suleymaniye. Istambul. Turquia.
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Istambul, turquia.

Os dias foram passando e a população começou voltar ao ritmo normal. Com os novos atentados na Bélgica, o foco foi desviado e conseguimos enfim, um pouco de coragem para explorar a cidade. Mas confesso que foi um tanto quanto estranho. No início quase não consegui relaxar. Sempre atento, parecia estar procurando um suspeito, um possível homem-bomba, e todo carro parado sem motorista com piscas ligados parecia pronto para explodir. Tudo era motivo para preocupação. Entre milhares de pessoas, parecia que feições preocupadas sempre cruzavam o meu olhar e a sombra do terrorismo parecia ser uma nuvem negra em minha consciência. Confesso que acabou sendo um sentimento exagerado. Aos poucos fui relaxando… Afinal, como reconhecer um homem-bomba? E mesmo parecendo invasivo, fiz algumas fotos…

Em 2015 Istambul recebeu cerca de 12,5 milhões de visitantes, tornando-se o 5° destino mais visitada do mundo. É claro que a ameaça terrorista derrubou esses números, mesmo assim, ainda se vê muitos visitantes lotando os maiores pontos de visitação, como as mesquitas, mercados, centro histórico e fazendo passeio de barco pelo Estreito de Bósforo, que separa a Europa da Ásia.

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Cúpula da Mesquita Azul, Istambul, Turquia.
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Hagia Sophia, Istambul, Turquia.
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Mesquita Yeni ou Nova, Istambul, Turquia.
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Uma das entradas do Grand Bazaar, um dos maiores e mais antigos bazares cobertos do mundo. Istambul, Turquia.
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Grand Bazaar, Istambul, Turquia.
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Grand Bazaar, Istambul, Turquia.

Esperando o pai de Eric que chegou para uma visita de 4 dias, tivemos tempo para fazer tudo com calma. Até tempo para arriscar uma pescaria no coração da cidade nós tivemos. Mas a fase continua ruim!!! Acho que o Eric está dando azar!!! kkkkk Mais uma vez não tivemos nenhuma beliscada! Com isso, tivemos que pagar caro para experimentar um pescado local! kkkk

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Pescadores sobre a Ponte de Gálata, Istambul, Turquia.
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Eric e eu arriscando uma pescaria sobre a Ponte Gálata, Istambul, Turquia.
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Como não existe peixe no canal do Bósforo, tivemos que comprar um e preparar um ceviche na casa de Oz Gun, com o Sr. Ralf, Eric e eu. Bairro de Sisli, Istambul, Turquia.

Selecionamos alguns restaurantes recomendados por Oz Gun, e arriscamos em outros, sempre com boas surpresas. Estrategicamente localizada com um”pé” na Ásia e outro na Europa, Istambul possui uma cozinha incrivelmente diversificada. E deliciosa! Dos abundantes kebabs, que são encontrados em todos os cantos da cidade, passando pelos peixes, carnes, vegetais, doces, massas e iogurtes,  nos deliciamos em cada bocada! Temperos, castanhas, frutas secas! Istambul exale cheiro de comida por onde quer que você vá! Vitrines de doces chamam atenção, aguçam o paladar, produzindo saliva só de olhar os baclavas, tahines, e lokuns ( bala de goma a base de amido de milho) variados. É fácil ser hipnotizado pelas riquezas das cores e promessas de sabores. Vi e provei muitas coisas diferentes como o Simit, um delicioso pão em formato de argola com sementes de trigo ou gergelim. O surpreendente Manti, uma espécie de ravióli recheado geralmente com carne bovina ou carneiro servida ao molho de iogurte. O incrível Hunkar begendi, que leva um ensopado de carne com purê de berinjela. O Ayran, uma bebida de iogurte levemente salgada que acompanha as refeições.  O estranho kokorec, um churrasquinho feito com tripa de cordeiro. O Boza, outra bebida original feita com grão-de-bico, açúcar e  canela. A exótica cabeça de cordeiro que me recordou a que comi na Mongólia (Veja aqui a cabeça de cordeiro que comi no interior da Mongólia). E muitas outras guloseimas mais.

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Doner de cordeiro. Istambul, Turquia.
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O Sr. Ralf e eu com muito apetite. Istambul, Turquia.
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Balcão de especiarias, chás, castanhas e frutas secas  no Egypt Bazaar. Istambul, Turquia.
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Figos secos. Mercado de Especiarias, (Egypt Bazaar). Istambul, Turquia.
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Boza – bebida típica feita com grão-de-bico. Istambul, Turquia.
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“Pide de sucuk”, um tipo de pizza com linguiça local que lembra um pouco o nosso chouriço. Istambul, Turquia.
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Kebab. Istambul, Turquia.
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Pescado grelhado que serve para rechear um delicioso sanduíche.  Istambul, Turquia.

Também encontrei alguns pratos trazidos como herança para o Brasil muito comum na minha casa e nas casas de famílias árabes brasileiras. Abobrinhas ou beringelas recheadas, charuto de folhas de uva, cafta, pão sírio, homus, babaganuche, labneh (coalhada seca) doces e molhos de tahine. Aí deu uma saudade danada da minha mãe! O charuto e a coalhada dela são incomparáveis! Assim como o quibe cru, um prato que ainda não vi por aqui! Cuida da mão aí em mãe! Quando eu voltar quero me esbaldar!!! kkkk

Istambul que já foi capital de 4 impérios ( Romano, Bizantino, Latino e Otomano) também deve ser a capital mundial dos gatos de rua! Nunca vi tantos! Eles dominam a cidade e estão presentes em todos os lugares. Nas estações de metrô, nas poltronas dos cafés, nas janelas das casas, nos tetos dos carros, nas escadarias que conectam os bairros altos com os baixos, em meio aos passos apressados dos locais ou dos passos relaxados dos curiosos turistas, muuuiiitttooosss nas caçambas de lixos. A quantidade é realmente de impressionar!

Istambul possui diversos bares tradicionais que são famosos pela dupla café e tabaco. O café é bastante forte e servido sem coar, enquanto o tabaco é aromatizado e fumado em uma espécie de cachimbo com reservatório de água, que me lembra um abajur, chamado narguilé. O café eu gosto bastante, mas o narguilé eu “passei”! Já havia experimentado antes e não gostei! O troço me deixa zonzo! Este hábito turco me pareceu um tanto quanto deprimente. Os homens, que são maioria absoluta, ficam sentados lado a lado, tragando e baforando fumaça, quase sem conversar. Olhando para o nada! Sei lá! Gostei mais do banho turco! Conhecido como Haman, as casas de banho turca também é uma tradição no país. Uma sauna a vapor com espaço para relaxar, que oferece massagem, banho de espuma, barbeiro e camas.

O último lugar que visitei foi a Ilha de Adalar, que faz parte de um arquipélago de 9 ilhas no Mar de Mármara, apelidado de Ilhas dos Príncipes, à 2 horas de barco de Istambul. Oz Gun tem uns amigos que moram lá. Enquanto ela ficou de bate-papo com os amigos, Eric e eu aproveitamos para caminhar e curtir os lindos visuais que a ilha oferece. Seja pelos visuais, por um passeio de charrete, para conhecer uma capelinha no alto do morro, ou mesmo para almoçar e tomar um sorvete no frenético centrinho da cidade, vale a pena fazer um passeio de um dia caso sua estada em Istambul for longa como a minha.

Minha temporada em Istambul chegou ao fim. Foram 18 dias! Mas ainda tenho muito a explorar na Turquia! Convido você para pegar uma garupa comigo e irmos juntos até a Capadócia, cerca de 800 km distante. Afinal, em uma viagem de bicicleta, não é apenas o destino que importa! O caminho é tão excitante quanto!

 


 

A viagem ao redor do globo continua. Suba na garupa e venha comigo nesta aventura!

DA CHINA PARA CASA BY BIKE, compartilhando a viagem enquanto ela acontece! Toda quinta-feira um novo episódio com dicas, curiosidades e o dia a dia de uma VOLTA AO MUNDO DE BICICLETA.

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6 respostas

  1. Muito linda a Turquia!!!
    E como sempre, fotos maravilhosas!!!
    Parabéns e tenha cuidado!!!
    siga em frente Aurélio, estamos na garupa!!!
    Ab
    Clauidia

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