Depois de 18 noites em Istambul, já era tempo de voltar para estrada. O desafio agora seria percorrer cerca de 670 km até a Capadócia, o último trecho em que Eric e eu percorreríamos juntos, totalizando mais de 1500 km desde que deixamos Tessalônica (Grécia). Fizemos uma bela parceria que vai deixar saudade! Eric é mais um amigo que fiz para a vida toda! Tenho certeza que o verei por mais vezes, e fico na esperança de um dia podermos pedalar mais uns quilômetros juntos. Agora teremos alguns dias para aproveitar juntos a Capadócia. Queria deixar um abraço também para Marc, outro ótimo companheiro e amigo, que percorreu boa parte desse percurso com a gente! Valeu Marc! Valeu Eric! Muito obrigado! Nos vemos na Alemanha!
A viagem começou com uma travessia de balsa no Mar de Mármara entre Istambul e Mudanya. Foi a maneira que encontramos para evitar o trânsito carregado das estradas na saída de Istambul. Por 1 minuto, perdemos a balsa das 12:30h e só embarcamos ás 15:30h. De Mudanya seguimos para a região metropolitana de Bursa. Com aproximadamente 2 milhões de habitantes, Bursa tem um entroncamento rodoviário bastante movimentado, nada agradável de se pedalar. A coisa piorou um pouco por que chegamos já escurecendo, no horário do rush, com os carros em alta velocidade tirando finas, nos obrigando a pedalar junto ao meio fio. Neste pedaço não havia acostamento. Foi o trecho mais perigoso de todo o percurso.
No outro dia, depois de dormir na área externa de um Café, debaixo de uma cobertura ao lado de uma rua barulhenta, deixamos Bursa. Em poucos quilômetros entramos em uma estradinha secundária e começamos a escalar. A vista de um pico nevado de uma montanha ao longe e o dia lindo amenizavam o sofrimento. Embora a estradinha fosse menos movimentada que a autoestrada, o tráfego de caminhões pesados exigia atenção. Apenas um ou outro dia percorremos estradinhas mais tranquilas. Não posso dizer que este trecho entre Istambul e a Capadócia foi um pedal super agradável. Depois de pequenos trechos em estradinhas secundárias, caímos novamente na autoestrada. Ainda bem que na maioria das vezes o acostamento era suficientemente largo, limpo e de boa qualidade.
Entre Istambul e a Capadócia, saímos do nível do mar e chegamos a 1350 metros de altitude. Sempre com ondulações. Sobe até 500, desce até 300 metros, no outro dia, vai a 1000 e volta aos 500 metros. E assim foi… Sempre escalando uma ou duas grandes montanhas por dia. Foram quase 5500 metros de subida total neste trecho. Para piorar, a paisagem foi super monótona, com raríssimas exceções! Um vasto campo desmatado, hora com plantações de trigo, hora com um poeirão danado causado pela extração de areia e pedras pelas fábricas de cerâmica ou cimento. Praticamente sem florestas nem árvores. Só no penúltimo dia de viagem, nas proximidades de Akasaray, a paisagem voltou a ficar agradável com montanhas altas, cheias de neve. Mas a estrada continuou na mesma! Ondulada, e um tanto quanto perigosa para ciclistas. Ahhh! Teve alguns dias que o pôr-do-sol foi bem legal!
Em Sereflikoçhisar, após dormimos em uma mesquita, o pneu de Eric amanheceu murcho. Não tivemos problema em remendar o furo. O problema foi recolocar o pneu na roda. Extremamente apertado (justo, quase sem folga para encaixar o pneu), que até quebrei uma espátula (ferramenta para deslocar o pneu do aro), toda vez, na parte final do processo, acontecia o que o mundo do ciclismo conhece como “snake bite”, ou “picada de cobra”. Isso acontece quando a câmara de ar sofre uma “mordida” do pneu e do aro, causando dois furos, muito parecidos com as marcar de uma picada de cobra. Mesmo tomando cuidado, tivemos que refazer o processo por 8 vezes! É mole? Tudo bem que 4 furos foram feitos por um mecânico de motocicletas que surgiu do nada e se propôs a ajudar. Como já havíamos tentado por quatro vezes, resolvemos apostar na experiência do sujeito! Resultado: O cara deixou mais 4 furos na câmara. Foi um dia cansativo! Estávamos no pátio de uma mesquita, era sexta-feira, o dia mais importante da semana para os muçulmanos. Todos que chegavam para a cerimônia religiosa faziam as mesmas perguntas, mesmo sabendo das respostas, pois já estávamos ali tempo suficiente para todos saberem tudo ao nosso respeito. Estávamos irritados com os insucessos nos reparos do pneu… muita gente colocando a mão na bike… falando alto… dando palpites em turco… como se o volume da voz fosse a chave para que entendêssemos o idioma. É igualzinho quando um brasileiro encontra um gringo! Já viu? O cara manda o português pausado, falando auto pra burro, como se resolvesse! Kkkk
Só por questão de curiosidade, já estou perto de pedalar 30.000 km e meu pneu furou apenas uma vez… Nem gosto de falar muito… Sorte né?! Insha’Allah (“se Deus quiser” ou “se Alá quiser” em turco), continue assim! Sai pra lá olho gordo! Pé de pato, mangalô, três veis! Saravá meu pai!
O dia foi tão cansativo psicologicamente que resolvemos ficar e dormir no confortável carpete da mesquita por mais uma noite. A parte boa desse perrengue foi conhecer Mesut, o Imame da mesquita. O Imame é o pregador das cerimônias religiosas do Islã. O Imame está para os muçulmanos assim como o padre está para os católicos. Além de nos abrigar na mesquita, Mesut nos ofereceu apoio em tudo que precisamos. Foi um encontro muito especial. As crianças também foram um caso à parte! Passaram o tempo todo conosco, tentando um diálogo, fazendo perguntas usando o tradutor do celular e brincamos de bola.
De volta a estrada, finalmente alcançamos o lago Tuz Golu, um lago salgado que fica entre a capital Ancara e Aksaray. Já cansado da monótona paisagem, apostávamos em um visual mais atraente quando percorrêssemos a extensão do segundo maior lago do país, responsável por produzir 70% do sal consumido na Turquia. No entanto, acabou sendo uma decepção. Com cor opaca e sem vegetação nas margens, o lago é muito pouco atraente. Feio que dói, coitadinho!!!
Se por um lado a estrada desmotivava, a população foi um fator motivacional importante. Seja em encontros casuais ou via sites de hospedagens, sempre encontramos pessoas hospitaleiras e dispostas a ajudar. Foi assim que conseguimos ter qualidade gastronômica neste trecho da viagem. Demos sorte em encontrar um ou outro restaurante de beira de estrada onde também comemos bem! Conseguimos hospedagem quase todas as noites. Só um dia, em Sivrihisar, tivemos que nos virar sozinhos. Além de chegarmos na boca da noite, a chuva atrapalhou na procura de ajuda e acabamos dormindo em um parque, dentro de uma casinha. Dormimos em salão de posto de gasolina, debaixo de uma cobertura de um café, dentro de mesquitas, em um posto de plantão 24h de resgate de autoestrada, e nas casas dos locais. Não pagamos por hospedagem e usamos a barraca apenas uma vez, mesmo assim, em um espaço cedido pelo dono de um restaurante. Fomos sempre recebidos com muito carinho!
Para fechar com chave de ouro, a hospitalidade turca nos brindou com uma chácara, onde Eric e eu estamos hospedados. Nazim, um amigo que nos recebeu em Eskisehir por duas noites, cunhado de Burak, do warmshowers, que nos hospedou em Bozuyuk, conseguiu desenrolar uma chácara na cidade de Nar, já na Capadócia. Nazim cuidou de tudo e quando chegamos, duas famílias estavam nos esperando com um delicioso jantar. O dono da chácara, Semih é professor de música na mesma escola em que Segvi da aulas de inglês. Os dois já trabalharam com a mãe de Nazim, que também deu aulas neste mesmo colégio. E assim, estamos instalados e prontos para explorar uma das regiões mais visitadas da Turquia, a Capadócia.
Respostas de 2
I see already, one of you goes the wrong tires ! So many holes I have not yet moved to 50000km ! I just say ” Schwalbe Marathon Plus Tour ” ! 😉 So there are no more holes !
Big hug Ronny! The amateur bicycle mechanic! 😉 😉
I know that! I learned from you! kkk but my other germany mate dont know! kkk