TEMPORADA NEPAL –
EPISÓDIO #1 –
Era a segunda vez que visitava o país. A primeira foi em 2009, quando fiz a caminhada ao Acampamento Base do Everest. Uma viagem de aventura repleta de desafios, que pelas dificuldades, é inevitável fazer uma análise interior. Nesta viagem, encontrei algumas respostas e no pé do Everest, decidi buscar um novo estilo de vida. Além de ser um dos lugares mais lindos que já visitei, hindus, budistas e muçulmanos, convivem em harmonia, tramando uma diversidade cultural e religiosa enraizadas na realidade do dia a dia, com crenças muito diferentes das nossas, tornando o Nepal, um lugar que ao mesmo tempo choca e deslumbra.
Apesar dos diferentes grupos étnicos, os nepaleses se caracterizam pelo sorriso puro e simpatia, tornando Kathmandu a capital mundial do sorriso, mesmo sendo um dos lugares mais pobres do planeta.
Na primeira vez que visitei o país, o impacto foi tão grande que voltei com a ideia de planejar uma grande viagem de bike juntando meus principais hobbies: viagem de aventura, gastronomia, fotografia, contato com a natureza e busca por novas culturas. E assim nasceu o Projeto Noruega by Bike, depois o Ásia by bike e agora o Da China para Casa by Bike, onde o Nepal, não poderia ficar de fora da minha volta ao mundo de bicicleta.
Desembarquei em Kathmandu, vindo da Mongólia. Estava empolgado! Afinal, voltava ao lugar onde tudo começou. Fiquei hospedado na casa de Dhane Blue, um professor norte americano membro do WS, que ficava no bairro de Dilli Bazar, cerca de 2,5 km do Thamel, o coração da cidade. Estava no quarto quando o chão tremeu levemente, ao mesmo tempo em que a energia foi cortada. Frações de segundos depois, veio o grande tremor… Eu demorei um pouco a perceber o que estava rolando… Logo pensei em um ataque terrorista ou bombardeio aéreo. Os tremores se seguiram por horas, variando a intensidade, deixando todos apreensivos e com medo. Ficamos sem energia e água por 36h, e sem , sem saber a verdadeira dimensão da tragédia. Só no final da tarde, soube da estimativa de mortos e feridos e da magnitude do terremoto.. 7.8 na escala Richter.
No total, foram 9.000 mortes e mais de 200 mil feridos e mais de 800 mil desabrigados em todo o país. Ao constatar a destruição da Dubar Square, um sentimento de tristeza e alívio tomou conta de mim! Foi duro ver todo aquele patrimônio arquitetônico, simbólico e espiritual, que tanto representa para os nepaleses, totalmente destruído. Ao mesmo tempo, estava vivo, e entendi que era a hora de retribuir, e ajudar esse povo incrível. A primeira coisa que fiz foi me voluntariar.
Fiz um um trabalho de profilaxia, contenção de epidemias e conscientização, espalhando bactericida em acampamentos de desabrigados e lugares com grande número de pessoas. A falta de estrutura, coleta de lixo, e saneamento básico deixava tudo mais difícil! Era comum ver pessoas defecando a céu aberto! Depois, ajudei na distribuição de água e alimentos, carregando caminhões; na limpeza e desinfecção de áreas de emergência de dois hospitais; e na remoção de escombros na Durbar Square.
O trabalho pesado a falta de sono e a precariedade da alimentação foi demais para mim. Depois de alguns dias, adoeci! Dor de cabeça, leve diarreia, e um pouco de febre e arrotos com cheiro de ou ovo podre. Estava com giárdia. Tomei medicamento e me hidratei por 3 dias.
Quis o lado bruto do destino, que o Nepal marcasse mais uma vez a minha vida. Esse foi o momento mais difícil da minha viagem. Por um instante passou pela minha cabeça: _ Vou morrer e não vai dar para fazer nada! E ironicamente, a minha bicicleta estava protegida dentro da caixa.
Para os nepaleses, restou meu sentimento de tristeza e solidariedade, e a esperança que esse povo forte e tão amável, de sorriso puro e cativante, encontre forças para se reerguer e superar um dos momentos mais difíceis da sua história recente.