TEMPORADA ÍNDIA –
EPISÓDIO #2 –
A minha primeira parada na Índia foi em Varanasi, uma cidade de 1.2 milhões de habitantes, que segundo a lenda, foi fundada no século XI a. C. pelo Deus Shiva, sendo uma das cidades mais antigas do mundo e a capital espiritual da Índia. Varanasi significa “Porta do Céu”, e por isso, é um destino muito cobiçado pelos hindus.
Banhada pelo sagrado Rio Ganges, aqui, a doutrina hindu prevalece e nos atinge em cheio, com todo o seu misticismo e esplendor. Intensa, colorida, a cidade possui um ritmo alucinante, cheias de becos e ruelas, palácios e templos medievais, e um povo regido pelo misticismo e mistérios da religião hindu, que me fez adorá-la. Ao mesmo tempo, por ser suja, barulhenta, e exibir alguns costumes fora do meu padrão, me faz detestá-la. Uma cidade capaz de te transportar para outra dimensão com o cheiro de incensos vindos dos templos, e te trazer de volta no mesmo instante com o cheiro podre dos cantos das ruelas que são usados como banheiro público.
Varanasi exibe uma arquitetura bastante interessante, misturando elementos Hindu, Rajput e Mulçumana. A alma da cidade são as escadarias que dão acesso ao rio. Conhecidas como gaths, representam a ligação entre o divino e a terra. São mais de 90 e cada uma tem seu significado e encantamento.
Com o nascer do dia, os homens santos, e as mulheres vestidas com sáris, trazem um colorido gostoso e atraente, capaz de me deixar horas sentado nos Gaths, com um fio de indignação ao acompanhar cada mergulho de purificação no poluído Ganges.
No Gath de Dasaswamedh, todos os dias logo após o por do sol, milhares de pessoas se reúnem para a Cerimônia em Homenagem ao Ganges, Shiva e outros Deuses. Entoando mantras, milhares de indianos agradecem as graças alcançadas, enquanto eu, contemplando todo aquele misticismo, ia me embrenhando cada vez mais em um mundo completamente diferente e desconhecido. Foi difícil fazer uma conexão daquilo que estava assistindo com o verdadeiro significado. De qualquer modo, acaba sendo um espetáculo bem bonito!
O Templo Shri Kashi Vishwanath, onde são feitas as cremações é outro Gath bastante visitado. É um lugar tão sagrado para os Hindus que não é permitido fotografar. Centenas de corpos são cremados todos os dias. Um último banho de purificação é dado pelos familiares. O corpo molhado é colocado em cima da pilha de madeira e as flores que enfeitam a maca do cadáver é oferecida as vacas, animal sagrado, que perambulam soltas e livres pelo lugar espalhando fezes para todo lado. Apenas os homens da família participam da cerimônia, já que as mulheres choram, impedindo a purificação da alma. Os hindus acreditam na reencarnação e que seu comportamento vai determinar a ascensão ou declínio de casta na próxima vida. É muito difícil a ascensão social na Índia, quem nasce em uma casta, sempre viverá nela. A reencarnação é o único meio de mudar essa sina. O ritual termina com as cinzas sendo jogadas nas águas do rio.
No final da tarde, assim que a sombra cobre as escadarias, os locais se reúnem para jogar cricket, o esporte mais popular do país.
Outro lugar bastante interessante é o bairro velho, com suas ruelas apertadas que hora exalam o perfume de incensos vindos dos templos, hora de frituras vindos dos pequenos restaurantes e hora de lixo que são simplesmente deixados em qualquer lugar. Existe praticamente um templo em cada beco, tornando o lugar profundamente místico, com milhares de peregrinos transitando em busca de souvenires e oferendas para serem lançadas ao rio.
No bairro velho também está situado o Kash Vishwanath, ou Templo dourado, um dos mais famosos e sagrados templos hindu dedicado a Shiva, com mais de 3.500 anos. Todos os dias, milhares de fanáticos fazem uma grande fila para visitá-lo. A entrada é restrita apenas para os hindus.