TEMPORADA RÚSSIA –
EPISÓDIO #2 –
Os primeiros dias de pedal foram extremamente chatos. Pedalei em uma estrada movimentada, barulhenta, entre um corredor de floresta de coníferas que encobria o horizonte. Vista limitada, templo nublado, vento contra, relevo ondulado. Fui vencendo os quilômetros sem muita empolgação usando o excelente acostamento da via, sem praticamente nada para ver.
O ponto positivo foi encontrar membros do Warmshowers em várias cidades, me infiltrando na cultura local e quebrando o preconceito de que os russos são frios e não sorriem.
Em Vyshny Volochyok, me encontrei com Alex, um membro do Warmshowers que mora em Moscou. Ele veio pedalar comigo por dois dias. Viajamos quase 200 km em dois dias por estradas secundárias, entre florestas, lagos, rios e vilarejos. Almoçamos com sua família em uma típica casa de campo onde passamos a noite. Comida típica e deliciosa! Com destaque para o pimentão recheado de café da manhã.
Nesta época do ano as macieiras estão carregadas, e é possível achar vários tipos de frutas na beira da estrada.
No final do nosso segundo dia de pedal, nos encontramos com Alexey, outro membro do Warmshowers que mora em uma pequena cidade chamada Bologoye. Ele também possui uma casa de campo onde fomos passar o dia com sua família. Rolou um churrasco e banho russo, ou “banya”. Algo parecido com uma sauna rústica. Relaxante e revigorante, comum em todas as casas de campo do país.
De Bologoye até Valday, pedalei em uma estradinha secundária bem tranquila, beirando rios, lagos, florestas e cruzando algumas vilas abandonadas.
O monastério de Valday fica em uma ilha no meio do lago que banha a cidade. Com ajuda de Filipp e Nikita, de 12 e 14 anos, encontrei um ótimo lugar para acampar. Os meninos, depois que me ajudaram a levantar acampamento e tentar achar minhocas para pescaria, se deliciaram com um delicioso queijo cottage temperado que preparei para o jantar ao lado da fogueira.
No outro dia, os meninos apareceram e me levaram a feirinha da cidade, onde reabasteci meus suprimentos e segui viagem…Eu adoro encontrar locais pelo caminho, mas quando se trata de crianças, fico ainda mais feliz!
Muito provavelmente você nunca ouviu falar em Veliky Novgorod, uma pacata cidade com cerca de 200 mil habitantes. É uma das cidades mais antigas da Rússia e muitas das decisões políticas desse monumental país foram tomadas aqui. Fundada no século I, Novgorod foi o primeiro centro cultural, arquitetônico e artístico da Rússia. A primeira escola do país também foi fundada aqui, tornando-se o principal centro de alfabetização e publicações de livros da época. A cidade influenciou a pintura e a arte decorativa não só na Rússia, mas também em toda a Europa. Sua posição estratégica longe das fronteiras, e seu poderio militar avançado para os padrões da época, conseguiram preservar um complexo único de monumentos arquitetônicos e afrescos dos séculos XI ao XVII, como o mais antigo manuscrito russo, por exemplo. A primeira vez que a cidade sofreu sérios danos foi na II Guerra Mundial, fortemente bombardeada por mais de dois anos. No entanto, o governo russo se esforçou e conseguiu restaurá-la.
Novgorod exala história! A Catedral de Santa Sophia por exemplo, é o mais antigo edifício russo. Erguida em 1045, está protegida pela mais antiga fortaleza russa, ou Kremlin. O Kremlin de Novgorod é mais antigo que o de Moscou, sendo citado pela primeira vez em 1044. Dentro do Kremlin, além da catedral, o conjunto de sinos de Santa Sophia, o Palácio do Arcebispo e o monumento em homenagem ao milênio recebem destaque especial. A cidade ainda possui vários museus com exposições das mais variadas, como joias, bordados, achados arqueológicos, pinturas, esculturas e manuscritos em casca de tronco de bétulas (árvores típicas da região). As águas do rio Volkhov passam lentamente ao lado da fortaleza, que com o sol de verão, trazem um charme todo especial a cidade.