Aurélio Magalhães – Da China Para Casa by Bike

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Não há mal que não venha para o bem!

Eu já mencionei a maioria das dificuldades que venho enfrentando na Índia em meus posts anteriores. Mas as coisas poderiam estar piores se não tivesse encontrado Aman e Juyti.

Juity, Aman e o amigo Dani
Juyti, Aman e o amigo Dani

Era final do dia. O sol já ia se pondo, colorindo o céu de laranja, deixando as poucas nuvens com um lindo tom lilás. Como todos por aqui, ele me ultrapassou devagar, me olhando, fazendo um leve gesto de comprimento com um sorriso de orelha a orelha. Passou calado, só depois olhou para o motorista e comentou alguma coisa… O motorista acelerou e parou metros adiante. De longe pude perceber sua excitação ao sair do carro.

À medida que me aproximava, intensificava o gesto de parar com as mãos… Stop! Stop! Eu estava em um ritmo forte para poder alcançar o próximo vilarejo e achar um lugar para passar a noite antes de ficar escuro. Naqueles poucos segundos que nos separava, exitei em parar várias vezes… Vou passar batido! Vou parar… Não! Puts! Vai escurecer! E daí! Tá perto! Parei! Mas meio com vontade de seguir! Em um rápido bate papo, o cara me pareceu legal, entreguei a ele o meu cartão de visita com o número de telefone local.

Ele me ofereceu estadia em sua casa, já que sua cidade estava a menos de 100 km dali, na direção que eu seguia. Nos despedimos com a promessa de receber seu telefonema pala noite e ajustar nosso encontro no outro dia. Mas no outro dia eu não acordei bem, e decidi me resguardar. Quando ele ligou, mais ou menos 10:30h da manhã, sugeri adiar o encontro para o dia seguinte, explicando que precisava descanar e tudo mais. Preocupado, ele veio até mim, sem saber onde eu estava hospedado, me achou. Me ligou algumas vezes… meu fone estava no modo silencioso e não percebi as ligações… mas ele veio mesmo assim! Disse que em uma cidade pequena na Índia, é fácil encontrar um estrangeiro viajando de bike.

Batemos um bom papo, tomamos um sorvete, comprei algumas frutas e ele se foi, me esperando no dia seguinte. Eu acordei por volta de 4:30h, chupei umas laranjas de café da manhã e meti o pé, animado, sabendo que teria meu primeiro contato íntimo com uma família Indiana. No meio do caminho, aconteceu o atropelamento! Um tratorista me alcançou no topo de uma pequena subida de um pontilhão, e na descida, ele vinha apenas um pouco mais rápido, me ultrapassando lentamente, girando o pescoço para trás me “admirando”, talvez tentando entender “o quê esse maluco está fazendo aqui!?”.

Como não existe regras de trânsito na Índia, um carro cruzou a pista e vinha voltando na contramão. O trator me impediu de ver essa manobra, e o tratorista se assustou quando viu o carro. Para não colidirem de frente, o tratorista puxou seu veículo com tudo para o meu lado, e o finalzinho da carreta pegou no meu guidão! Se eu tivesse visto o carro no sentido contrário, certamente poderia ter evitado o acidente!

Eu não vi! Fui ver o carro quando já estava no chão! Centésimos de segundos depois de bater forte com a cabeça no chão! Meu capacete rachou e fiquei com o lado esquerdo do corpo todo ralado. Levantei e fui empurrando a bicicleta até um pequeno bar na beira da estrada. Com água mineral, lavei os ferimentos com sabonete, peguei meu kit de primeiros socorros, fiz os curativos com paciência, pingando de suor, e segui com dores nos dois punhos, pedalando até a entrada da cidade de Etawah, onde mora Aman. Liguei para ele. Em 10 minutos ele me encontrou tomando um chá com o dono de um boteco, debaixo de um ventilador. Nessa altura eu estava bem dolorido, e ao me ver todo ralado, foi logo demonstrando sua preocupação. Pediu para o amigo Dani ir pedalando a minha bicicleta e me colocou dentro do carro.

Aman mora com sua tia Juyti, dentro da sede de um hospital onde ela trabalha como médica. Me instalaram em um quarto com ar condicionado, fizeram curativos, compraram remédios e me deram comida. Quando percebemos que um dos machucados estava infeccionado, fomos ao hospital, me deram duas injeções e mais remédios. Ela também ajudou a tratar uma pequena diarreia que durou um dia e meio.

Ao mesmo tempo em que sua tia me tratava, Aman foi demonstrando seu carinho e preocupação, me proporcionando tudo aquilo que eu precisava e mais um pouco. Frutas, cereais, boa comida, sorvete… cada hora era uma boa surpresa! Fez questão de me levar para conhecer os arredores da cidade e foi meu guia em Agra. Fizeram me sentir em casa!

Hora detratar os ferimentos infeccionados. Hospital e Etawah
Hora de tratar os ferimentos infeccionados. Hospital e Etawah, Índia.

Durante a minha recuperação, tive tempo para colocar a casa em ordem, organizando anotações, fazendo contatos e pesquisas. Processo lento e difícil com a internet do celular. Fui para Agra de ônibus. Era preciso ganhar tempo! Agora, vou usar a cidade apenas para dormir. Já vi tudo que eu queria por lá! Com Juity e Aman, pude vivenciar e fazer parte de uma maneira mais íntima do dia-a-dia de uma família de classe média indiana, cozinhando, indo ao mercado, ajudando nos pequenos afazeres de casa. Pude entender um pouco mais sobre a “lógica indiana” que rege o dia-a-dia e as inter-relações das pessoas.

Senti os aromas e aprendi um pouco mais da culinária local. Mas sobre tudo, o mais importante desse encontro, foi que fiz dois amigos para a vida toda e serei eternamente grato por tudo que fizeram por mim! Muito obrigado Juyti e Aman! Até um dia!

Aman, orgulhoso, me apresentando o Taj Mahal - Agra, Índia
Aman, orgulhoso, me apresentando o Taj Mahal – Agra, Índia

 


 

A viagem ao redor do globo continua. Suba na garupa e venha comigo nesta aventura!

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10 respostas

  1. Beleza Tato.
    Todo ser humano deveria ser assim como essas pessoas q encontrou dias antes do acidente mamis Tb é muito grata a eles bjs e Su cuida

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